Escrito no período
Darwin não teve uma boa impressão da população do Brasil desta época e escreveu nos seus primeiros dias no Rio de Janeiro:
O dia de hoje foi desperdiçado para a obtenção dos documentos necessários para autorizar minha expedição rumo ao interior do país. Submeter-se à insolência dos burocratas nunca é agradável, mas no caso dos brasileiros, cuja mente é tão desprezível quanto o povo é miserável, a tarefa é praticamente intolerável. Qualquer naturalista é capaz de lamber a sola do sapato de um brasileiro diante da perspectiva de ver florestas selvagens povoadas por belos pássaros, macacos e preguiças e lagos com capivaras e jacarés.
No dia 25 de abril de 1832, Darwin quase perdeu todos seus pertences durante o desembarque na praia de Botafogo. No dia seguinte enviou o seu diário para sua irmã Carolina. Veja como foi:
Trouxe todas as minhas coisas do Beagle para Botafogo. Ao desembarcar na praia, tive um dissabor em pequena escala, o suficiente, porém, para figurar alguns dos horrores de um naufrágio. Duas ou três grandes ondas inundaram o barco: para meu terror, vi boiando diante de mim meus livros, instrumentos, coldres e tudo o que me era mais útil. Nada se perdeu ou foi completamente deteriorado, mas a maior parte dos itens foi danificada.
Corcovado: No dia 30 de maio de 1832 Darwin estimou sua altitude em 2.225 pés acima do nível, que hoje é medida em 2.330 pés Bibl. 5 (Darwin, 2008 p. 87). No dia 27, escreveu:
... fomos juntos subir o Corcovado. A trilha, pelas primeiras milhas, é o aqueduto: a água sobe pelo sopé do morro e é conduzida por uma escarpa íngreme até a cidade. A cada canto apresentaram-se-nos vistas diferentes e lindíssimas. Por fim começamos a subir os altos degraus que, por toda parte, estão cobertos por espessa floresta. Os cursos d'água estavam ornamentados pela mais elegante das formas de vegetação: a samambaia. Não eram de tamanho muito grande, mas, no brilho da leveza verde de sua folhagem e na linda curva com que caíam, eram de uma beleza clássica e admirável. Logo chegamos ao pico e contemplamos esta vista que, talvez com a exceção das da Europa, é a mais decantada do mundo. Se classificamos as paisagens de acordo com o espanto que produzem, esta, com toda a certeza, ocupa o lugar mais alto, mas se, como é mais verdadeiro, o fazemos de acordo com o efeito pictórico, ela perde por muito para várias outras nas vizinhanças. Todos já comentaram que uma paisagem vista de uma eminência perde muito de sua beleza e, conquanto aqui estejam muito presentes os dois elementos {o que talvez cause menos dano por essa razão, no que se refere a um trecho de terra com florestas e de mar aberto) mesmo assim se sustenta a observação. O Corcovado tem cerca de 2.000 pés de altura; um de seus lados, por quase 1.000 pés, é tão íngreme que poderia ser sondado verticalmente. A seu pé fica uma grande mata; nada me agradou tanto quanto a linda aparência que ela exibiu quando vista de um ponto tão próximo da vertical. Isso faria supor que a vista de um balão seria extremamente impressionante.