Escrito no período
Assim descreveu FitzRoy a chegada do Beagle na Terra do Fogo:
À medida que navegávamos na baía Buen Suceso, um berro fueguino ecoou nas arborizadas colinas; e sucederam-se gritos lançados por um grupo de nativos postados em uma elevação, ao norte da baía, onde se viam peles sacudidas ao ar acenando para nós com extrema disposição. Ao verem que não os havíamos notado, acenderam uma fogueira que instantaneamente produziu grande volume de fumaça branca e espessa. Muitas vezes me espantei com a rapidez com que os fueguinos produzem esse efeito (que para eles é um sinal) neste clima úmido, onde às vezes passei mais de duas horas tentando acende um fogo.
Sobre a chegada à Terra do Fogo, Darwin escreveu no seu diário no dia 16 de dezembro de 1832:
Cabotamos a costa da Terra do Fogo um pouco ao Sul do cabo de São Sebastião e então, alterando nosso curso, corremos a algumas milhas da costa. O Beagle nunca havia visitado estas partes, de modo que era tudo muito novo para todos. Nossa ignorância a respeito de morarem aqui nativos foi logo desfeita pelo usual sinal de uma fumaça e, breve, com auxílio de lunetas, pudemos ver um grupo e alguns índios isolados evidentemente observando com interesse o navio. Devem ter acendido as fogueiras imediatamente ao avistarem a embarcação mas, se o fizeram com o propósito de comunicar a notícia ou de atrair nossa atenção, nós não sabemos. A brisa estava fresca e percorremos 50 milhas de costa antes de ancorarmos para a noite.
A terra não é alta, e sim formada de estratos horizontais de alguma rocha moderna, que na maior parte dos pontos forma falésias que encaram o mar. Ela é também cortada por muitos vales ascendentes, que são cobertos de grama e polvilhados de arbustos e árvores, de modo a apresentar uma aparência alegre. O céu estava sombrio e a atmosfera, nada limpa, caso contrário teriam sido belas as vistas em alguns lugares. A uma grande distância, ao Sul, estava uma cadeia de altas montanhas, cujos picos brilhavam nevados. Estamos ancorados ao Sul do promontório de São Paulo.
No dia seguinte, ele descreveu o passeio na ilha:
Sendo dia de Natal, suspendeu-se toda a lida; os marujos esperam um grande dia de gala e, por essa razão, permanecemos ancorados. A angra Wigwam é uma ilha das Hermits; seu local é sinalizado pelo pico Katers, uma íngreme montanha cônica de 1. 770 pés de altitude que surge ao lado da baía que contempla. Sullivan, Hamond e eu partimos depois do desjejum para escalá-la. Os flancos eram muito íngremes de modo a tornar muito fatigante a escalada e certas partes eram densamente cobertas de faia antártica. Do pico, podia-se ter uma boa ideia geográfica das ilhas circunstantes e do distante continente. Essas ilhas pareceriam ser o fim da cordilheira dos Andes, com seus topos somente um pouco acima do oceano.
Enquanto observávamos essa inóspita região, mal podíamos dar crédito à ideia de que o homem exista aqui. Em nosso retorno a bordo, disseram-nos que fôramos vistos do navio, o que sabíamos ser impossível, pois o Beagle está ancorado na boca do porto e logo abaixo de um pico alto, que fica na frente do Katers. Como era certo que alguns homens foram vistos rastejando sobre as pedras desta colina, eles deveriam ser fueguinos. De onde eles estavam, todos nossos grupos eram visíveis. E quais não devem ter sido suas sensações de espanto, pois toda a angra Wigwam ressoava com as armas disparadas nas cavernas contra as aves selvagens; gritávamos também nós três em busca de eu impetuosamente martelava as rochas com minhas ferramentas geológicas. Devem ter pensado que éramos as forças das trevas; ou, por qualquer outra razão, o medo os manteve ocultados.