Cabo de Hornos, o mal tempo e os fueguinos

Por diversas vezes, durante as primeiras semanas de 1833, FitzRoy tentou viajar rumo ao Oeste, na direção do estreito Christmas, para repatriar os fueguinos dessa região: York Minster e Fuegia Basket.

A história com os fueguinos começou na última expedição na Terra do Fogo em 1830, quando houve um incidente: fueguinos roubaram uma das baleeiras do Beagle. Tentando negociar com os nativos, FitzRoy aprisionou alguns fueguinos para trocar pela embarcação, mas a negociação fracassou. No final da viagem eram 4 fueguinos a bordo, nomeados pela tripulação como: York Minster (26), Boat Memory (20), Jemmy Button (14) e Fuegia Basket, uma menina de nove anos. FitzRoy resolveu levá-los à Inglaterra para aprenderem inglês e serem educados. Todos foram vacinados contra varíola mas, infelizmente, Boat Memory, o predileto de FitzRoy, caiu doente em Plymouth e não resistiu.

Firme em sua missão de repatriar os aborígenes, FitzRoy rumou em direção ao rochedo de York Minster. Ao passarem pelo temível Cabo de Hornos, os fortes ventos e as imensas ondas seguidas de precipícios colocaram a prova o navio e a destreza da tripulação. No auge da tempestade, o Beagle quase virou por conta de uma série de enormes vagalhões que o atingiram. Essa foi a pior tempestade que FitzRoy enfrentou.

Depois das dificuldades enfrentadas, o comandante decidiu rumar para mar aberto e ancorar no falso Cabo de Hornos, onde puderam contabilizar as avarias e perdas. Durante a tormenta foram obrigados a se livrar de uma das baleeiras e, por conta da água que entrara pelos conveses, vários espécimes da coleção de Darwin foram danificados, uma perda irreparável.

Darwin ficou traumatizado com a tormenta que enfrentaram no Cabo de Hornos. Essa experiência foi relatada em seu diário no dia 13 de janeiro de 1833:

O vento não cede. Se o Beagle não fosse uma excelente nave e não estivesse em boa condição nossa aparelhagem, estaríamos em apuros. Vento menor já desemastreou e pôs a pique muitos bons navios. A pior parte disso tudo é não sabermos com exatidão nossa posição: era um som desagradável ouvir os oficiais repetidamente dizerem ao homem da gávea que olhasse bem para sotavento. Nosso horizonte se limitava a um pequeno escopo graças à água carregada pelo vento. O mar parecia ominoso: havia tanta espuma que ele parecia uma planície lúgubre coberta de montes de neve acumulada. Enquanto lidávamos com esforço, era curioso ver como o albatroz, com suas asas largas expandidas, planava vento acima.

Meio-dia. Ao meio-dia a tempestade estava em seu ápice, e começamos a sofrer. Um mar muito alto nos atingiu e veio a bordo. A aparelhagem traseira do bote do convés cedeu e, conseguindo-se um machado, eles foram instantaneamente obrigados a cortar fora uma das belas baleeiras. O mesmo mar encheu tanto nossos tombadilhos que, se outro houvesse seguido, não seria difícil imaginar o resultado. Não é fácil imaginar em que estado de confusão estavam os tombadilhos graças ao grande volume de água. Por fim abriram-se as escotilhas e o navio novamente flui suave para o mar.

À tarde o clima amainou e pudemos discernir o cabo Spencer (perto da angra Wigwam) e, correndo naquela direção, ancoramos atrás do falso Cabo de Hornos. Como estava escuro houve dificuldade em encontrarmos um lugar, mas como os homens e os oficiais, graças ao longo tempo molhados, estão muito cansados, "largou-se" âncora na profundidade habitual de 4 7 braças. Refestelar-se em águas calmas depois de se envolver em tamanha guerra entre os elementos é de fato um luxo enorme. E não poderia ser menor, já que o capitão FitzRoy considera ter sido esta a pior tempestade em que já esteve. É uma reflexão desencorajadora: há vinte e quatro horas, agora, dobramos o Cabo de Hornos; depois disso houve constante mau tempo e estamos agora a não muito mais que vinte milhas dele.

• Que o arquipélago Terra do Fogo é separado do continente americano pelo estreito de Magalhães? O primeiro europeu a percorrer esse canal foi o navegador português Fernão de Magalhães em 1520, durante sua viagem ao redor do mundo.
• Que o Cabo de Hornos é a parte mais ao sul do arquipélago Terra do Fogo, no extremo sul do continente americano? Por ser uma área muito perigosa para navegação, possui um farol em Alcaldia de Mar (Porto Toro), mantido pela Armada Chilena, onde somente mora a família de um oficial.
• Que o Cabo de Hornos era utilizado como rota obrigatória das navegações entre os oceanos Pacifico e Atlântico antes do canal do Panamá? O Cabo de Hornos é o ponto mais austral da América do Sul, a aproximadamente a 56°S, no encontro entre os oceanos Atlântico e Pacifico. O estreito de Drake é a distância mais curta entre a América do Sul e a Antártica. Essa região e caracterizada pelas piores condições meteorológicas marítimas do planeta, com ventos fortíssimos e mar revolto.
• Que a tempestade do dia 12 de janeiro de 1833 foi a pior condição meteorológica que Darwin e FitzRoy enfrentaram durante a viagem?
• Que, durante a tempestade, Darwin observou que o albatroz planava no vento com suas asas abertas?
• Que Darwin ficou tão aterrorizado com a tempestade, que registrou em seu diário suas preces para que não passassem por isso novamente?
• Que a tripulação do Beagle acreditava que os fueguinos eram canibais? Darwin se equivocou com os hábitos dos nativos neste sentido. Eram altruístas e gentis com suas famílias e tribos locais.
• Que York, ao ser questionado sobre os hábitos canibais dos fueguinos, brincou com os marinheiros do Beagle dizendo que as mulheres eram devoradas pelos nativos na época do inverno? Essa informação falsa aumentou o medo na tripulação do Beagle.
• Que o vento, que sopra nas encostas da montanhas nesta região, é tão forte que arranca a copa das árvores?

Mapa localizando a ilha de York Minster, o Cabo de Hornos, a Ilha Lennox e o Canal de Beagle ao Sul da ilha grande da Terra do Fogo: