Local 19
WULAIA e a Cordilheira Darwin
Dia de 20 de janeiro, entraram em uma área densamente habitada por fueguinos. Assim que avistaram as quatro navegações, os fueguinos acenderam lareiras, chamando a atenção da tripulação e divulgando a chegada dos forasteiros. Um dos grupos de fueguinos surgidos de uma falésia próxima a embarcação impressionou Darwin pela selvageria. Completamente nus e com cabelos compridos, eles saltavam e gesticulavam com braços em torno da cabeça, soltando gritos assustadores, com aparência tão exótica que mal pareciam desse planeta.
Navegar pelo Canal do Beagle foi muito agradável. Dos dois lados do canal relativamente estreito viam-se morros de ardósia cobertos de matas de faia. À medida que iam se dirigindo ao norte, as montanhas tornavam-se mais altas e irregulares, com matas escuras e picos parcialmente cobertos de neve.
Dia 22 entraram na enseada Ponsonby desembarcando entre o povo do Jemmy Botton, os Yámanas. No dia seguinte, guiados com perfeição por Jemmy, foram até uma angra onde sua família residira, a baia de Wulaia. Jemmy reconheceu a voz de seu irmão numa distância enorme, mas quando se encontraram lamentavelmente descobriu que não conseguia mais se comunicar bem na sua língua.
Em Wulaia, a tripulação teve uma ótima surpresa: pela primeira vez encontraram uma grande extensão de solo rico e limpo que parecia adequado para plantação de vegetais europeus. Havia uma família de fueguinos vivendo por lá que enviou uma canoa para buscar os parentes de Jemmy. Enquanto aguardavam, investiram seu tempo na construção de uma pequena colônia inglesa com três casas e duas hortas.
A notícia da chegada dos ingleses foi se espalhando e em alguns momento havia mais de 100 Yámanas observando o trabalho da tripulação. Eles estavam pacíficos e calmos, mas pediam tudo que viam ou roubavam quando tinham oportunidade. No dia 27, provavelmente por conta de um confronto entre um ancião e um sentinela, o clima ficou tenso e inesperadamente mulheres, crianças e homens partiram. FitzRoy achou melhor a tripulação se retirar para um lugar mais seguro. Matthews e seus homens passaram uma noite apavorados. Mas, na manhã seguinte, quando a tripulação retornou tudo estava calmo.
O capitão resolveu enviar uma baleeira e o iole de volta ao Beagle. Seguiram pelo braço Sudeste do Canal do Beagle, com as outras duas baleeiras rumo a enseada Whaleboat e Ilha Stewart.
No dia 29 de janeiro, quando FitzRoy, Darwin e os tripulantes estavam acomodados em volta da fogueira, houve um grande incidente com o desprendimento de uma enorme geleira, provocando um estrondo amedrontador. Um imenso volume de espuma se elevou do mar, seguido de grandes ondas que avançaram velozmente na direção deles. Seus barcos estavam fora d`água, e Darwin e três homens correram para a areia para puxá-los para uma área mais elevada, evitando que os mesmo fossem lançados ao mar. A iniciativa de Darwin deixou FitzRoy tão grato que, quando passaram por uma cordilheira no dia seguinte, nomeou-a Cordilheira Darwin, em sua homenagem.
Quando retornaram à Baía de Wulaia em 6 de fevereiro, descobriram que Matthews passava por dificuldades. Sua horta havia sido pisoteada e vários artefatos roubados. Apenas os objetos de maior valor escondidos estavam a salvo. FitzRoy decidiu resgatar o missionário e deixar apenas York, Fugia e Jemmy por lá. A separação trouxe uma certa tristeza, mas ainda se encontrariam mais uma vez.
Mapa localizando a enseada Ponsonby, a baía de Woollya (ou Wulai), a enseada Whaleboat, a ilha Stewart e o canal de Beagle ao Sul da ilha grande da Terra do Fogo: