Abadia de Westminster, Londres, Inglaterra. Depois de 1859

Local 43

O legado de Darwin

Darwin viveu em um época em que a sociedade acreditava que o surgimento do planeta estaria ligado aos dogmas da Igreja, e que o meio ambiente era imutável. O início do século XIX foi uma época de grandes descobertas científicas, sobretudo da biodiversidade do planeta, através das pesquisas dos célebres naturalistas viajantes, que encontram a natureza pouco alterada, principalmente nas regiões inóspitas e hostis.

Pode-se dizer que Darwin estava no lugar certo na hora certa. Charles apresentava a curiosidade, determinação e coragem necessárias para observar a natureza ainda inalterada, e questionar-se sobre o surgimento de novas espécies no planeta, sem as amarras da religiosidade. Mesmo não tendo o conhecimento da hereditariedade, que seria vislumbrada décadas depois por Gregor Mendel, e a descoberta do DNA por James Watson e Francis Crick, teve a ousadia de propor a seleção natural, que pode ser aplicada a qualquer tipo de vida em todo lugar.

A amizade de Darwin e FitzRoy permaneceu por toda a vida. FitzRoy tornou-se Vice-Almirante da Almirantado Inglês e foi eleito sócio da Royal Society em 1851, pela sua contribuição na hidrografia, astronomia náutica e por suas medições precisas da rede de distâncias meridianas na circunavegação do HMS Beagle. A Royal Society nomeou-o como estatístico meteorologista oficial para a melhoria da previsão do tempo atmosférico. Apesar de grande contribuição nas ciências atmosféricas, foi alvo de severas criticas injustas. Por sofrer de depressão, não conseguiu lidar com a injustiça, e suicidou-se em 30 de abril de 1865, aos 59 anos. Atualmente, o Vice-Almirante FitzRoy é considerado o pai da meteorologia na Grã-Bretanha.

FitzRoy e os fósseis
Entrevista com Almirante Bittecourt

Ainda em vida, Darwin foi reconhecido como grande naturalista, até mesmo pela Igreja Anglicana. Faleceu aos 73 anos, em Down House, no dia 19 de abril de 1882. Seus amigos da Royal Society cuidaram para que recebesse um funeral de Estado e fosse enterrado na Abadia Westminster, ao lado de Isaac Newton, Charles Lyell e William Herschel.

Sua teoria desconstruiu dogmas religiosos e mudou a forma de pensar em inúmeras áreas da ciência. Entretanto, ainda é pouco explorado seu lado de excelente observador do meio físico e sua curiosidade pela natureza. Sua capacidade de descrever os lugares por onde esteve e as pessoas que encontrou, é admirável e apaixonante, tornando seu diário da viagem do Beagle um livro marcante.

Com o passar dos anos, encontrou a paz interior que o afastava de Deus e aceitou as forças da natureza que movem todos os processos naturais de transformação da vida no planeta chamando-o como o “Sopro do Criador”.

Escrito no período

Darwin em seu livro “Origem das Espécies” procurou mostrar que na natureza tudo está conectado e relacionado:

Com base nesses princípios, podem ser explicadas a natureza das afinidades e as distinções em geral bem definidas entre os inumeráveis seres orgânicos de cada classe através do mundo.

É, de fato, uma verdadeira maravilha – que costumamos deixar de perceber por nos ser tão familiar – que todos os animais e todas as plantas através de todos os tempos e espaço devem estar relacionados entre si em grupos, subordinados a grupos, de tal maneira que vemos por toda a parte variedades da mesma espécie mais intimamente relacionadas, espécies do mesmo gênero menos inteiramente relacionadas e, de modo desigual, formando subfamílias famílias ordens, subclasses e classes.

Darwin, em seu livro “Origem das Espécies”, fala da “Árvore da Vida” procurando mostrar a constante evolução da vida:

Como os brotos dão origem ao crescimento de novos brotos, e estes, se forem vigorosos, se ramificam para fora e por cima de todos os lados dos ramos mais fracos à sua volta, assim também, creio eu, tem acontecido geração após geração com a grande Árvore da Vida que preenche a crosta da terra com seus galhos mortos e partidos, e cobre a superfície sempre com novas e belas ramificações.

Darwin pede aos estudiosos para esquecerem os preconceitos:

Quando forem admitidas as ideias que apresento nesta obra, ou as do Sr. Wallace, ou quando forem admitidas ideias análogas sobre as origens das espécies, podemos prever uma revolução considerável na história natural.

Darwin também fala sobre o Passado, Presente e Futuro:

A julgar pelo passado, podemos inferir com segurança que nenhuma espécie viva transmitirá sua semelhança inalterada em um futuro distante, e, das espécies que vivem hoje em dia, poucas transmitirão qualquer tipo de descendência em um futuro longínquo, pois a maneira pela qual todos os seres orgânicos estão agrupados mostra que o maior número de espécies em cada gênero, e todas as espécies de muitos gêneros, não deixou descendente e formas completamente extintas. Até aqui podemos apenas lançar um olhar profético sobre o futuro como se predisséssemos que as espécies mais comuns e mais difundidas, pertencentes aos grupos maiores e dominantes dentro de cada classe, serão as que por fim prevalecerão e produzirão espécies novas e dominantes.

Com todas as formas de vida são descentes diretas das que viveram muito antes da época do Cambriano, podemos ter certeza de que a sucessão ordinária de geração para geração nunca foi interrompida, e que nenhum cataclismo jamais assolou o mundo inteiro. Assim, podemos olhar com certa confiança para um futuro seguro e bastante longo; e, como a seleção natural trabalha somente pelo e para o bem de cada indivíduo, os dons mentais e corporais tendem a progredir em direção à perfeição.

Darwin encerra seu livro falando sobre “UM SOPRO CRIADOR”:

É interessante contemplar uma ribanceira coberta por plantas de todos os tipos, com pássaros cantando nos arbustos e vários insetos voando e vermes rastejando pela terra úmida, e refletir que essas formas elaboradamente construídas, tão diferentes umas das outras e dependentes entre si de um modo tão complexo, foram todas produzidas por leis que atuam à nossa volta. Essas leis, tomadas em seu sentido mais amplo, são leis do Crescimento com Reprodução; Herança que é quase decorrência da reprodução; Variabilidade, pela ação direta e indireta das condições de vida, uso e do desuso; um Índice de Aumento tão alto que leva à Luta pela Vida e, em consequência, à Seleção Natural, acarretando Divergências de Caráter e Extinção das formas menos aperfeiçoadas. Assim, da guerra da natureza, da fome e da morte, forma-se o mais elevado objeto que se é capaz de conceber, ou seja, a produção de animais superiores. Há uma grandeza nessa noção de vida, com seus vários poderes, tendo sido originada por um sopro Criador em algumas poucas formas ou em apenas uma; e que, enquanto o planeta girava de acordo com a lei fixa da gravidade, a partir de um início tão simples, um número infinito de formas, as mais belas e maravilhosas, evoluiu e continua a evoluir.

Você sabia?

  • Que um o livro Aventuras e descobertas de Darwin a bordo do Beagle” foi escrito pelo bisneto de Darwin? Richard Keynes trabalhou muitos anos para desvendar o “Diário do Beagle”.
  • Que Randal Keynes, filho de Richard Keynes, veio ao Brasil em 2009? Ele foi ao Rio de Janeiro participar do projeto “Caminhos de Darwin” da UFRJ, comemorando os 200 anos de seu tataravô.
  • Que Alexander Amin Casper "Skandar" Keynes, ator que atuou como Edmund Pevensie na série de filmes “Crônicas de Nárnia, é descendente direto de Charles Darwin? Ele é filho de Randal Keynes.

Para saber mais...

O fascínio pela ciência
Entrevista com o prof. Ildeu Moreira da UFRJ
  • Em 2009 - 150 anos após a publicação da Teoria da Evolução das Espécies - cientistas encontram “o elo perdido“ que reforça sua teoria.
BBC The Link Uncovering Our Earliest Ancestor (Legendas PT)
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