Escrito no período
No diário do Beagle Darwin gostava de fazer anotações sobre suas impressões, emoções e expectativas. Nos dias 19 e 20 de fevereiro de 1832, ele escreveu em seu diário como foi a experiência em Fernando de Noronha, e sua grande expectativa em relação às florestas tropicais.
Uma hora antes do pôr-do-sol, Fernando estava claramente visível: parece ser um lugar extraordinário. Há uma montanha altiva que, à distância, parece pendente. Estamos agora muito próximos e, assim que a lua surgir, ancoraremos no porto. ... A vista do grupo de ilhas era muito impressionante sob o claro luar e me senti muito desapontado quando descobri, com a luz do dia que os morros não são de forma alguma altivos. Escrevi um relato da ilha em minha geologia e é trabalho pesado demais copiar qualquer coisa quando o sol está a apenas uns poucos graus do zênite. Passei um dia delicioso caminhando a esmo pelas matas. A ilha toda é uma floresta, e ela é tão espessamente cerrada que se requer grande esforço de quem pretenda rastejar por ali. O cenário era muito lindo e grandes magnólias e louros e árvores cobertas de delicadas flores haveriam de me ter satisfeito. Mas tenho certeza de que toda a grandiosidade dos trópicos ainda não foi vista por mim. Não tínhamos mais aves variegadas; nada de beija-flores. Nada de flores grandes.
Fico feliz por ter visto estas ilhas: hei de gozar das maiores maravilhas tanto mais por ter uma dica do que esperar ver. Todas as árvores que ou estão com frutos ou com grandes flores são talvez as coisas mais impressionantes que encontra quem passeia pelas matas dessas gloriosas regiões. Juntei-me ao capitão ao entardecer e fui informado de que deveríamos partir naquela mesma noite. O que decidiu seus planos foi a grande dificuldade de se desembarcar na praia.
Três anos após sua passagem por Fernando de Noronha (setembro de 1835), o HMS Beagle chegou ao Arquipélago de Galápagos. Ao conhecer algumas ilhas deste arquipélago, Charles comparou com a vegetação de Fernando de Noronha e registrou em seu diário. Estas observações chamam atenção para algo que só veio a ser utilizado muito tempo depois: a classificação de ambientes naturais por sua similaridade climática, de solos, de tipos de vegetação, animais e funções ecológicas.
Desde que deixamos o Brasil não vimos paisagem tão tropical, mas há uma grande deficiência: a ausência das altas, variadas e belíssimas árvores daquele país. ... Em todas essas ilhas, as partes secas me lembraram Fernando Noronha; talvez a afinidade se deva apenas às circunstâncias similares de um solo vulcânico árido, uma vegetação florescente desprovida de folhas em uma região intertropical; mas sem a beleza que em geral acompanha tal localização